quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Poema de José Carlos Ferreira do Nascimento, premiado no concurso "Luiz Carlos Guimarães"

O tempo (I)

Ruminante boi pastando a madrugada
pastou pasto pastou poste pastou
pontes e estradas os arames
dos cercames os roçados implantados,
lameadas lâminas de enxada.
Pastou porteiras tamboretes candeeiros
e terreiros, o vermelho dos tijolos do alpendre.
Ruminante foi pastando ainda os chapéus
os pés de milho o cantar do grilo
toda a força do arado o orgasmo
das vacas no cio o estio no pote seco.
Intratável, tragou as fogueiras bombas
sanfonas danças, as bandeiras de São João.
Papou as árvores dos retratos
roçados dos painéis o cheiro
das areias chuviscadas,
palhas secas espalhadas no curral.
Mastigou casinhas de taipa
o caminho da roça lãs
as manhãs de colheita cactos,
as espinhentas palmas aguadas por minha vó.
Ruminante boi pastou
cor de meus cabelos meus sonhos
minha saúde meu semblante sereno, menino
lembranças de minha infância
a vida dos meus avós.

(José Carlos Ferreira do Nascimento)

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